sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ecodesign e reciclagem de pré-consumo de cristal de vidro

"Para a maioria de nós, design é invisível.

Até falhar."
Bruce Mau



O cristal é produzido em Portugal desde 1944 pela Crisal, Cristais de Alcobaça, Lda., fundada por vários sócios entre eles José Emílio Raposo Magalhães, banqueiro (este cristal era de inferior qualidade pois só tinha 13% de chumbo).
Em 1972, a família Raposo Magalhães, face à concorrência dos países de Leste (Checoslováquia, Polónia e Hungria) cria uma marca de cristal a Atlantis, especializada em produzir vidro plúmbico de qualidade superior (30% de oxido de chumbo). (Mendes, 2002)
Inicialmente esta fábrica situava-se no centro urbano de Alcobaça, em 1985, por exigências ambientais da Comunidade Europeia, passou para a zona industrial de Casal da Areia. De uma capacidade de produção de 10 toneladas/dia de cristal, produz actualmente as 12 toneladas/dia.
Devido às exigências da empresa e do mercado, entre 30% a 40% da produção é transformada em casco (casco, é vidro com defeito que é partido).
Do casco produzido, somente 40% a 60% é reintroduzido na produção de novos produtos, dependendo da qualidade de vidro a produzir.
Da produção 4,8 toneladas/dia são transformadas em casco, destas entre 2,88 toneladas/dia a 1,92 toneladas/dia vão para o lixo, transformando-se em resíduos sólidos.
Se pelo patamar mais baixo, forem produzidos 1,92 toneladas/dia de lixo ao fim de um mês temos, 57,6 toneladas, ao final do ano 691,2 toneladas.
Este lixo é colocado em contentores e cedido a uma empresa de tratamento de casco de vidro, (Cascovidro) que se dedica à venda de casco de vidro e que tem sérias dificuldades em fazer o escoamento do casco de cristal, esta empresa (Cascovidro) vende para Espanha o casco de cristal mas somente quando a empresa espanhola quer. A empresa gestora dos resíduos não cedeu os contactos da empresa espanhola para que fosse conhecido destino final do casco não utilizado.
O cristal não pode ser misturado com o vidro comum, pois para além de não serem compatíveis no seu coeficiente de dilatação este pode ser considerado um contaminante. Ainda assim, se estes dois materiais fossem eventualmente compatíveis estar-se-ia a baixar a qualidade de refracção do vidro plúmbico (a compatibilidade entre vidros tem a ver com a sua composição inicial e o coeficiente de dilatação do material quando em processo de aquecimento/arrefecimento, a falta de compatibilidade dá origem ao vidro azedar, ou seja as suas tenções internas provocam o estalar do vidro ou mesmo a quebra deste, mesmo que tenham um coeficiente de dilatação semelhante um deles terá chumbo e o outro não, estar-se-á a baixar a qualidade de refracção da luz).
O chumbo, como foi referido anteriormente que é considerado um contaminante do vidro de embalagem (por ex.) e se este material for para aterro corre-se o risco do chumbo começar a dissolver-se e ser absorvido pelos lençóis freáticos. O chumbo está classificado pelo site da biothinking como material que produz um grande impacte ambiental, espaço reservado a materiais com o mesmo impacte ambiental que baterias eléctricas e metais pesados.
Este projecto de doutoramento em design visa valorizar um desperdício de matéria-prima nobre, que devido às suas características não pode ser misturado na reciclagem de vidro comum. O projecto visa desenvolver produtos derivados dos resíduos de cristal, na área dos revestimentos arquitectónicos, e na área do design, por técnicas aplicadas ao vidro comum nomeadamente as tecnologias de fusing, termomoldagem, tacfusing, sandcasting, kiln casting, pâte de verre, entre outras, não sendo prevista a utilização da técnica de vidro soprado para não fazer concorrência a produtos existentes no mercado, produzidos pelas empresas que geram o material base deste estudo.

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